quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Exposições promovidas pelo Museu Municipal

De Scallabis a Santarém | 2002 | Igreja da Graça, Santarém
A História de Santarém começou a ser escrita na zona do actual Jardim das Portas de Sol, lugar onde foram descobertos os primeiros vestígios da ocupação humana do planalto escalabitano. A exposição de “Scallabis a Santarém”, realizada em 2002, na Igreja da Graça, em Santarém, e no Museu Nacional de Arqueologia, em Lisboa, apresentou pela primeira vez ao público o resultado de alguns estudos que deram a conhecer as origens da cidade, bem como seguir o seu percurso ao longo do tempo.
A exposição mostrou tudo o que se conhece actualmente sobre a história antiga da cidade. Teve por base, quase exclusivamente, os trabalhos arqueológicos desenvolvidos no planalto da Alcáçova, que decorreram desde os anos 1980, e que permitiram recolher um numeroso conjunto de materiais da ocupação do sítio. Ainda que se tenham igualmente registado intervenções noutros locais da cidade, foi sobretudo nesta zona que Santarém nasceu.
Pretendeu-se, acima de tudo, mostrar como se processou a ocupação do solo da actual urbe, que ao longo de três milénios foi sendo construída e reconstruída, derrubada e erguida. Por vezes manteve-se o traçado das ruas, mas os edifícios e os bairros mudaram com o passar dos séculos. Cada cidade esconde na vertical inúmeros edifícios semi-destruídos, extensas faixas de ruínas, que por si só acabam por ser um puzzle de antigas povoações. Com um subsolo rico em termos arqueológicos, à semelhança de outros locais históricos, a Santarém actual é o resultado das várias urbes que a antecederam, e cujo percurso ficou registado nos muitos metros de terra acumulados debaixo da actual cidade.
Datam do século X a.C. os primeiros vestígios dessa ocupação, que até ao século I d.C. ocorre, exclusivamente no local onde hoje se localiza o Jardim das Portas do Sol. A partir daí, o núcleo urbano foi crescendo, ocupando progressivamente áreas cada vez mais extensas, ao ponto, no século XII, incluir já todo o planalto de Marvila e os dois núcleos ribeirinhos junto ao rio Tejo: Ribeira e Alfange.
Promovida pela Câmara Municipal de Santarém e o Museu Nacional de Arqueologia, esta mostra deu a conhecer a transformação do núcleo urbano da cidade e da região envolvente de Santarém, desde o início da Idade do Ferro, século X a. C., até à Idade Moderna, no século XVI.
A exposição foi dividida em cinco núcleos, começando por explicar como se processou a ocupação do Espaço e como cresceu o núcleo urbano; como evoluiu a actividade económica, da agricultura, ao pastoreio e à pesca, passando pelas indústrias transformadoras, como a metalurgia e a tecelagem, das quais chegaram até nós imensos vestígios; ou como se desenvolveu a ligação às rotas do comércio mundial e a própria actividade comercial da cidade. Finalmente os dois últimos núcleos centraram-se na vivências da população local através dos artefactos encontrados, e como o tempo foi alterando esse mesmo quotidiano, desde a dieta alimentar, a forma de confeccionar e consumir os alimentos, as actividades lúdicas, os objectos de adorno, até à arte da guerra. Por último, focou-se a influência da religião e as atitudes perante a morte, as divindades venerados ou os ritos funerários praticados pelos habitantes desta região.

S. Frei Gil de Santarém e a sua época | 1997 | Igreja S. João de Alporão
S. Frei Gil é um dos santos portugueses com maior projecção nacional e internacional. A vida e obra deste ilustre e controverso frade dominicano foram motivo de destaque da exposição “S. Frei Gil de Santarém e a sua época”.
Figura polémica, apelidada de “Fausto Português” e “Homem de Deus e do Diabo”, terá sofrido um violento rebate de consciência, após uma juventude boémia em Paris. O novo rumo fê-lo ingressar no convento da Ordem de S. Domingos, em Santarém. Aqui distingue-se como médico, taumaturgo, teólogo e pregador, nos séculos XII e XIII, tendo sido canonizado pelo papa Bento XIV a 9 de Maio de 1748.
De seu verdadeiro nome Dom Gil Rodrigues de Valadares, também é conhecido como São Frei Gil de Portugal, São Frei Gil de Vouzela, terra do seu nascimento, no final do século XII, bem como São Frei Gil de Santarém, local do seu falecimento, a 14 de Maio de 1265.
Após o convento dominicano de Santarém ter sido destruído e vendido ao desbarato, foi construído no mesmo local uma praça de toiros. Do túmulo de S. Frei Gil resta apenas a tampa com uma estátua jacente, que foi transferida das ruínas do convento para o Museu Arqueológico, no Museu do Carmo, em Lisboa. Alguns dos outros dos despojos arquitectónicos medievais que foram salvos na época, fazem parte do espólio que foi exibido, em 1997, na Igreja de S. João de Alporão.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Uma estátua da Virgem Maria é o único vestígio que resta da Porta de Alpram

A porta de Alporão - ou Alpram – fazia parte dos muros defensivos que rodeavam a antiga vila de Santarém. Era uma das várias entradas que davam acesso à porta da cidadela ou à Alcáçova, o recinto militar por excelência. Na Santarém medieval era sobretudo um espaço central de circulação que permitia a ligação entre os dois recintos amuralhados do planalto de Marvila então existentes.
A porta era ladeada por duas torres. Uma viria, posteriormente, a dar origem à Torre do Relógio, actualmente conhecida como Torre das Cabaças. A outra, a de Alpram, fazia parte da estrutura da Igreja de S. João de Alporão, juntamente com as antigas muralhas, que desciam pela encosta até ao povoado ribeirinho de Alfange.
A partir do século XV, a área sofre uma crescente urbanização e são levadas a cabo as primeiras demolições no local da Porta de Alpram. Uma das torres é convertida em Torre do Relógio da Vila, passando a informar a vila e arredores sobre a mudança das horas, algo que passou a ser medido mecanicamente através de aparelhos e sinos colocados no cimo da estrutura.
Segundo registos da época, a porta de Alpram estaria situada no espaço compreendido entre a Igreja de São João de Alporão e a Torre das Cabaças. Por aqui passavam todos os desfiles e cortejos reais sempre que os monarcas se dirigiam à Capela Real, situada na Igreja de Santa Maria da Alcáçova.Terá sido, precisamente, esta localização que ditou o destino do último vestígio da porta de Alpram, quando, no final do século XVIII, os responsáveis pelo município ordenaram o derrube da torre contígua à Igreja de São João de Alporão, bem como do arco que fazia ligação com a Torre das Cabaças. Em 1785, a rainha D.Maria I visitou a então vila escalabitana e fez questão de assistir a uma missa na Capela Real da Alcáçova, pelo que se optou pela demolição do que restava da porta de Alpram para permitir a passagem do coche real.
No alto do arco que restava da estrutura original da porta encontrava-se uma pequena ermida dedicada a Nossa senhora da Paz, da qual foi retirada uma imagem medieval, possivelmente do século XV. Tratava-se de uma escultura em pedra da Virgem Maria coroada, com menino Jesus ao colo e uma pomba. Encontra-se actualmente em exposição no Núcleo Museológico do Tempo, na Torre das Cabaças. É o derradeiro indício que resta daquela que em tempos foi uma das principais entradas na povoação que viria a dar origem a Santarém. CQ

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

O monumento mais visitado no Museu de S. João de Alporão foi construído para guardar apenas um dente

D. Duarte de Meneses, Conde de Viana, foi um cavaleiro escalabitano que alcançou o posto de Alferes-Mor de Álcacer-Seguer, feitoria marroquina conquistada em 1458. Foi nesta praça do norte de África, mais propriamente na serra de Benacofu, que o guerreiro português tombou em combate, em 1464, por altura das cruzadas, quando defendia a retirada do rei D.Afonso V.
A inscrição que se encontra no mausoléu de D. Duarte de Meneses, gravada no século XVIII, acrescenta pormenores à história, ainda que dificilmente se consiga comprovar a sua veracidade. É referido que o militar, dispondo de apenas 500 soldados, enfrentou 500 mil mouros no conflito onde perdeu a vida, embora tenha conseguido salvar a vida do monarca português, que assim pôde regressar são e salvo a Portugal, após mais uma campanha por terras africanas.
O monumento funerário de D. Duarte de Menezes, um cenotáfio encomendado pela sua viúva, D. Isabel de Castro, no final do século XV, destinava-se a acolher um pequeno cofre que guardava apenas um dente, que supostamente pertencera ao falecido militar. Enquanto alguns investigadores alegam que o corpo de D. Duarte nunca foi resgatado do campo de batalha, outros garantem que o mesmo dente foi precisamente a única parte que se conseguiu recuperar do cadáver despedaçado do soldado português.
Já agora, explique-se que um cenotáfio é um monumento funerário simbólico, erguido para homenagear apenas uma pessoa ou mesmo um grupo de indivíduos. Poderá tratar-se de uma tumba vazia, destinada a guardar alguma lembrança relacionada com a pessoa, ou acontecimento, que se pretende evocar.

Esculpido por canteiros da Batalha
Esculpida pelo mestre Gil Eanes Costa, da escola de canteiros do Mosteiro da Batalha, a tumba funerária foi construída com calcário local e tem um peso impossível de calcular. Possui uma envergadura de seis metros e meio de altura, uma largura de quatro metros e trinta e cinco, e uma espessura ou profundidade que não vai além de um metro.
Monumento do gótico final português, este monumento é considerado uma das jóias da arquitectura e escultura tumular nacional. Ostenta uma estátua jacente de um guerreiro armado, envolta por motivos decorativos de ordem vegetalista, animalista e heráldica, directamente inspirados no estilo dos túmulos dos infantes da Capela do fundador do Convento da Batalha, D. João I.

Mudar de casa
O cenotáfio de D. Duarte foi originalmente instalado na capela das Almas, no Panteão dos Condes de Viana, situado no interior do Convento de S. Francisco, em Santarém. Em 1881 foi autorizada a sua transferência para o Museu do Carmo, em Lisboa, o que só não aconteceu perante os protestos das autoridades e da população escalabitana, que se manifestaram contra esta decisão, impedindo a desmontagem do mausoléu e a mudança de local.
Apesar disso, parte do espólio monumental local foi mesmo transferido para Lisboa no final do século XIX. Como justificação foi apontada a ausência de obras de conservação e o perigo de degradação, bem como as demolições e transformações operadas nos edifícios históricos da cidade.
Em 1889 a Igreja de São João de Alporão abriu ao público como museu, após uma das primeiras obras de conservação e restauro realizadas em Portugal. Uma das principais atracções era precisamente o cenotáfio de D. Duarte de Meneses, que fora desmontado sob a supervisão de um mestre-pedreiro do Convento da Batalha, e transferido da sua localização original na capela das Almas. Antes fora aberto na presença das autoridades e arqueólogos locais, que encontraram uma tumba vazia, contendo apenas um pequeno cofre com um dente no seu interior.
Segundo técnicos da Câmara Municipal de Santarém, estudos recentes concluíram que o dente analisado pertencia à dentição de uma criança.
Carlos Quintino

Vale D’Algares: Um oásis no coração do Ribatejo

Vale D’Algares é um projecto turístico inovador a nível nacional. Apostado em vingar em várias frentes, possui uma forte vertente vitivinícola, vocacionada para o enoturismo, um centro equestre, uma quinta onde já se realizam os mais diversos eventos e prevê construir um hotel de charme e um moderno centro multiusos. Grande parte desta iniciativa passa pela Quinta de Vale D’Algares, propriedade que se estende por um frondoso vale onde foi criado um pequeno paraíso natural. Situado em pleno Ribatejo este empreendimento é desconhecido da grande maioria da população local.

Vale d’Algares localiza-se na pacata aldeia ribatejana de Vila Chã de Ourique e faz parte do Concelho do Cartaxo, ficando a uma distância de Lisboa que poderá ser percorrida em escassos 30 minutos.
Este projecto pretende ir de encontro às “exclusivas necessidades de cada cliente”, segundo as directrizes estipuladas pela empresa, que quer ainda oferecer “um serviço de qualidade que prima pela excelência” e que seja “capaz de proporcionar emoções e recordações, num ambiente intimista e de pura cumplicidade com a Natureza”, realça.

Velha adega, nova roupagem
Para além desta vertente ambiental, o projecto de Vale D’Algares contempla igualmente a criação de um centro equestre, bem como o desenvolvimento de um inovador projecto turístico ligado ao enoturismo. Para esse efeito, foi completamente reconstruída e beneficiadas as instalações de uma velha adega situada em pleno centro da pequena aldeia de Vila Chã de Ourique.
Aqui nada foi deixado ao acaso. Percorrendo os diferentes pisos deste edifício é possível ficar a conhecer algumas das ancestrais práticas utilizadas para a produção de vinho, tendo nesse sentido si do preservado algum do antigo património para que os visitantes se apercebam da evolução das técnicas vitivinícolas ao longo dos tempos.
A visita a este edifício conduz os visitantes a três pisos abaixo do solo, onde numa vasta cave repousam largas dezenas de barricas de carvalho, onde o vinho se encontra em fase de maturação até alcançar as condições ideias para ser colocado à venda ao público
Finalmente, este percurso termina numa inovadora sala de provas subterrânea onde os visitantes são contemplados com uma prova de alguns dos vinhos produzidos pela casa.
De dimensões quase épicas, a magnitude deste edifício caracteriza-se por uma arquitectura de contemporânea modernidade e por uma inovadora decoração das instalações, totalmente concebida tendo em vista o desenvolvimento e a procura turística, permitindo desta forma que os visitantes recordem e evoquem tempos passados, alguns muito remotos mesmo.
No entanto, esta moderna adega está longe de ser apenas um edifício de características museológicas. Paralelamente ao restauro efectuado, foram igualmente introduzidas as mais recentes e actuais formas de produção vitivinícola com o objectivo de produzir vinho proveniente dos 31 hectares de vinha existentes no interior da própria Quinta de Vale D’Algares.

Esforço medalhado
Os resultados já começaram a surgir com as duas medalhas de ouro que os vinhos de Vale d’Algares alcançaram no International Wine Chelenge deste ano. Em termos nacionais a qualidade dos vinhos foi igualmente reconhecimento por vários especialistas da Revista Dos Vinhos que atribuíram o prémio Produtor Revelação do Ano transacto.
Após uma inicial parceria, Vale D’Algares criou uma estrutura própria e assumiu por completo a gestão de todas as etapas de produção vinícola, desde a plantação das vinhas, até à distribuição dos seus vinhos, com o objectivo de garantir um controlo efectivo de toda a produção. As variedades seleccionadas incluem tanto castas tradicionais da região como algumas inovações próprias, como é o caso da introdução do alvarinho e viognier.

Paradisíaca Quinta
Na sua totalidade a Quinta de Vale D’Algares estende-se por 100 hectares de terreno, local para onde está prevista a construção de um Pavilhão Multiusos destinado a acolher iniciativas em grande escala, contribuído para trazer à região um acréscimo no afluxo de visitantes, profissionais ou simples turistas em passeio. 
No vasto espaço da Quinta pretende-se, acima de tudo, proporcionar uma variedade de recursos naturais e humanos em harmonia com o meio envolvente. Podem assim observar-se nos pequenos montes, vales e no Paúl existente inúmeros gansos e outras aves selvagens que esvoaçam sob o acolhedor lago com uma pequena ilha no centro. Nas margens colocaram-se luzes que quando ligadas criam uma ambiência nocturna bela e singular.
Em redor, os antigos edifícios aqui existentes foram completamente remodelados e a grande parte dos caminhos foram calcetados. De realçar a existência de um antigo lagar de azeite onde se tentaram preservar os mais ínfimos pormenores dos acabamentos de madeira originais. Restaurou-se ainda a tradicional mó e colocou-se pedra portuguesa, o que contribuiu fortemente para recuperar as características de outrora.
Espaço de referência na Quinta, o beneficiado Salão Nobre que teve como fonte de inspiração a tipologia dos armazéns e da traça local, juntando o conforto e a modernidade a um ambiente rústico. Neste salão procurou-se alcançar uma grande funcionalidade e polivalência, podendo realizar-se aqui eventos como congressos, conferências, colóquios, apresentação de produtos, jantares, acções de formação ou workshops. Para esse efeito, o recinto está totalmente equipado com sistema de imagem e som, podendo ainda ser requerido o serviço de catering.
Este esforço já trouxe resultados à empresa, tendo o espaço da Quinta Vale D’Algares sido distinguido como o Melhor Centro de Eventos na 3.º Edição da Gala dos Eventos 2010, realizada no passado dia 1 de Junho no Sheraton Porto Hotel & Spa. Sob o escrutínio de um júri composto por organizadores, fornecedores, responsáveis por eventos em grandes empresas, meios de comunicação especializados e associações profissionais a Quinta foi avaliada com a nota máxima de qualidade e conceito enquanto espaço para eventos.

Turismo a cavalo
O turismo equestre é outra das apostas do grupo que gere este empreendimento. Vale D'Algares pretende mesmo ser um novo centro do mundo equestre a nível nacional e internacional. Para isso possui um centro equestre que ocupa uma área de cerca de 16 hectares. Completamente equipado, aqui existem condições para a prática das diferentes modalidades ou disciplinas equestres, caso do salto de obstáculos, ensino, dressage, equitação de trabalho, atrelagem ou ainda equitação adaptada.
No local existe ainda uma escola de equitação que se dedica ao ensino da equitação lúdica e equitação desportiva de competição. Para completar o cenário, Vale d’Algares dedica-se igualmente à criação, compra e venda de cavalos puro-sangue lusitano e cavalos de desporto através da sua coudelaria, criada de raiz.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Fragmentos da memória de Santarém em exposição

A história de Santarém tem novos dados à disposição do público. Sob a designação de “Fragmentos da Memória”, podem ser visitadas novas extensões permanentes do Museu Municipal em quatro locais do centro histórico da cidade, que foram alvo de recente recuperação arquitectónica.
As intervenções arqueológicas, desenvolvidas em fase de obra, permitiram trazer à luz do dia novos fragmentos que ajudam a conhecer melhor a história da complexa ocupação humana que o planalto de Santarém sofreu ao longo dos séculos.
Assim, em 2003, foi descoberta uma nova cisterna durante as obras de remodelação do Teatro Sá da Bandeira. Esta estrutura, associada ao medieval Hospital de Jesus Cristo, encontrava-se obstruída com materiais da época moderna. Para além disso, encontram-se ainda expostos diversos artefactos, de Ter. a Dom. entre as 10h00 e as 22h30.
No Centro Social Inter-Paroquial de Santarém foram encontradas, em 1998, um conjunto de estruturas escavadas na rocha, provavelmente dos séculos X e XI, que podem ser visitadas de Seg. a Sex. das 08h30 às 18h00.
Por outro lado, na Residência de Estudantes do Instituto Politécnico de Santarém, um edifício do século XVI, escondia a três metros de profundidade vestígios que remontam aos séculos XIII e XIV. A visitar de Seg. a Sex. entre as 09h00 às 16h00, com intervalo para almoço entre as 12h00 e as 13h30.
Por último, na Casa do Brasil, a intervenção arqueológica de 1997 revelou que este espaço tem sido ocupado desde os séculos X e XI, ainda que tenha sofrido grandes alterações no decorrer do século XVIII. Aberto de Ter. a Dom., das 09h00 às 17h30, com pausa para almoço das 12h30 às 14h00.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Museologia e Património Cultural: Aprender a animar para divulgar

Santarém tem um novo espaço de debate, para discutir temas relacionados com a museologia e o património cultural. Cada encontro terá lugar na primeira segunda-feira de cada mês, tendo sempre como convidado um orador ligado aos assuntos abordados.

“Temos que tornar acessível o espólio dos museus ao maior número possível de pessoas”, esta foi uma das reflexões saídas da palestra “Animar ou educar? Estratégias e aprendizagens não formais”, tema desenvolvido por Sílvia Madeira, da Escola Superior de Educação de Santarém.
Outra das principais conclusões saídas deste encontro, apontou no sentido de ser necessário, acima de tudo, investir na formação de profissionais de museologia, uma situação de carência que se regista de norte a sul do país.
Aos técnicos de museus cabe hoje em dia captar a atenção dos visitantes para o legado histórico, ou não, que têm sob a sua responsabilidade. Nesse sentido, algumas das medidas sugeridas consideram ser urgente a criação de iniciativas de carácter cultural ou lúdico, que possam contribuir para chamar a população a participar neste tipo de actividades.
No entanto, nada disso surtirá efeito sem a elaboração de um eficaz plano de acção, destinado a ser aplicado de forma coerente em todas as iniciativas que se pretendam vir a desenvolver. Será este o tipo de animação que se deseja incrementar futuramente como prática comum, visto que animar, definitivamente, não é sinónimo de brincar.

Problematizar a museologia
Como primeira personalidade convidada, a professora Sílvia Madeira falou no âmbito da iniciativa “Primeiras Segundas, conversas ligeiras para temas de peso”, promovida pelo Núcleo do Museu Municipal e Património Cultural da Câmara Municipal de Santarém (CMS). A conversa inaugural teve lugar no passado dia 3 de Janeiro, no Auditório Virgílio Arruda na Biblioteca Municipal de Santarém. A estreia foi relativamente animadora, com uma sala composta por uma assistência constituída, sobretudo, por profissionais do sector e estudantes de cursos de animação cultural.
Segundo a organização, espera-se que estes encontros contribuam para, “em ambiente informal, problematizar uma série de temas relacionados com a museologia e o património cultural”. Pretende-se, acima de tudo, criar uma dinâmica que consiga captar e envolver a população, fazendo destas reuniões uma plataforma de debate, que sirva para chamar a atenção para toda a problemática relacionada com questões de âmbito cultural e patrimonial.

Chamar o público
Um dos temas em foco nesta primeira sessão foi tentar saber qual a forma mais indicada para motivar e cativar a população, para que esta se sinta tentada a visitar os equipamentos culturais disponíveis nas suas localidades, sejam bibliotecas, museus ou monumentos.
Para Sílvia Madeira é urgente “conseguir motivar o maior número possível de pessoas”, captando o interesse da população, enquanto se procura encontrar a melhor forma de sensibilizar e distinguir os diferentes tipos de público, sejam crianças, adolescentes ou adultos.
A especialista não defende o incentivo como forma de captar público, “caso este seja feito de forma isolada. Pode oferecer-se, por exemplo, um balão desde que esse objecto esteja directamente relacionado com uma acção em que as crianças participem” no interior do próprio museu.
Luís Mata, coordenador do Núcleo de Museu e Património Cultural,“falta sobretudo oferecer e implementar os museus como mais um elemento das famílias”, além de ser necessário “convencer os professores a formarem parcerias” com estas instituições. Verifica-se que as saídas programadas para qualquer ano lectivo, deparam sempre com limitações e “outras prioridades que se sobrepõem, como uma ida às piscinas”, por exemplo.

Três portas para a educação
Partindo do princípio de que “para motivar é necessário saber gerir” os conhecimentos adquiridos, Sílvia Madeira considera existirem três passos – ou portas - essenciais para definir os factores de aprendizagem de qualquer processo, podendo este ser formal, não formal ou informal.
Uma primeira porta implicará sempre a criação de “um mapa que funcione como um plano educativo”. Nesse sentido, lembrou que “hoje em dia as autarquias possuem um plano educativo local, sob um grande chapéu que define objectivos em relação à educação” e à forma de gerir os recursos disponíveis. Lamentou, no entanto, que os “planos educativos mudem em função da população e da cor política” de cada autarquia.
A segunda porta prende-se com a animação e a escolha de estratégias e metodologias a adoptar. Apesar de a animação ser uma aprendizagem não formal, existem contudo “custos consoante o meio escolhido”. Afinal, “animar é tornar interessante”, mas para isso são necessários recursos financeiros que permitam que as iniciativas apresentadas atinjam os objectivos pretendidos.
Para esta professora, “animar é uma forma estratégica de educar” ainda que estas mesmas estratégias possam ser uma “lâmina de dois gumes, que cortam para os dois lados”, caso não sejam convenientemente implementadas e geridas.
Finalmente, a terceira porta diz respeito à aprendizagem, já que “a formação dá-nos o conhecimento”, admite Sílvia Madeira. Reconhece, no entanto, que “a péssima escolarização desenvolvida durante décadas” conduziu-nos a uma situação “com grandes custos económicos e sociais”, que nos mantém na cauda da União Europeia, em termos de desenvolvimento social e cultural.

Animar como forma de vida
Qualquer forma de animação terá de passar, inevitavelmente, pelos chamados agentes culturais ou educativos, cuja função “é transmitir todos os aspectos” envolvidos nas suas áreas de intervenção, pois “o público deve poder escolher, e para poder escolher deve estar informado”.
Acrescenta ainda que “um agente cultural sem pessoas para gastarem e consumirem a cultura não existe” pura e simplesmente. Além disso argumenta que os agentes envolvidos terão de ser cada vez “mais pró-activos” para conseguirem captar o público.
Apesar de uma aparente banalização da área da animação, Sílvia Madeira considera que “não se pode ser animador de qualquer a maneira, pois a animação exige uma mínima formação”. Nesse sentido recorda que “a animação é uma área ainda recente no país” dado que “a primeira geração de animadores foi formada através de cursos ministrados após o 25 de Abril de 1974”.
Acima de tudo, realçou, “os agentes educativos têm a obrigação de serem mediadores da população em geral, sobretudo porque não vivemos num país com uma apetência educativa e cultural muito grande”.

Cultura como bem comercial
Apesar da recente e gradual criação de uma rede nacional de auditórios e do surgimento de novos espaços museológicos, Sílvia Madeira alerta que “não basta dizer que existem espaços culturais”, pois estes locais “devem ser publicitados”, embora continuem a faltar “orçamentos para a comunicação e a divulgação”. Para além disso é igualmente necessário definir uma estratégia coerente, visto que “há formas de divulgar que não chegam a parte nenhuma”, assegura.
Definir um rumo que vá de encontro aos objectivos pretendidos implica a adopção de medidas acertadas, já que “não podemos defraudar o espaço para o qual estamos a trabalhar”, mas antes “tornar cada espólio o espaço de toda a gente”, frisa.
A mesma docente defendeu ainda que “a cultura deveria ser vendida enquanto um bem comercial”, embora reconheça que para algumas pessoas isso é “quase um sacrilégio”. Aliás, continua, “a ideia de que cultura é para toda a gente é algo recente”, tal como os esforços para “atrair público para as instituições”, pois anteriormente todas as acções tinham como fim último o de conservar o património existente. Algo impensável nos dias que correm, onde as instituições tentam por vários meios chamar os visitantes, de forma a justificar a sua própria existência enquanto espaço de conhecimento e partilha de saber histórico, ou simplesmente lúdico.

Guardiões de memórias
Para Luís Mata, as autarquias têm a “obrigação social” de estar ao “serviço das populações”. E para isso contribui o perfil de qualquer profissional de museologia, cuja “função enquanto guardião é contribuir para a construção da memória colectiva”.
No caso particular da História local, este técnico reconhece que ainda é longo o caminho a percorrer, até conseguir levar os munícipes a acreditar que esta não é uma ciência definitiva, estanque, isolada em compartimentes selados e imutáveis. Outros estudos podem apontar noutro sentido, mas muitas vezes nesse trajecto surgem obstáculos, quase incontornáveis, como a chamada “memória induzida”, segundo a qual somos compelidos a acreditar que aquilo que conhecemos possuiu sempre a mesma forma com que chegou até nós, sobretudo no que diz respeito ao caso do património histórico material ou imaterial. Não é fácil contrariar essa tendência, visto que as pessoas têm a propensão de acreditar naquilo que sempre lhes foi contado pelos seus antepassados como sendo a verdade histórica.
Para Luís Mata, essa resistência popular surge como um dos maiores entraves à construção da História local, dificultando o trabalho de investigadores que retiram do baú das memórias novos factos que permitem uma outra leitura e interpretação do conhecimento histórico. Dada esta oposição, cabe aos técnicos tentar encontrar a melhor forma de sensibilizar a população, sugerindo uma orientação diferente, face a conclusões que possam ter surgido, com base na interpretação de novos estudos efectuados por historiadores.
Para terminar, Sílvia Madeira deixou no ar a questão de se saber “porque é que as pessoas da cidade de Santarém não vêm ao museu ou à biblioteca?”, sobretudo quando se sabe que “a disponibilidade de tempo é uma questão afectiva”, já que se consegue sempre encontrar tempo para aquelas coisas que mais gostamos de fazer.