terça-feira, 18 de janeiro de 2011

O monumento mais visitado no Museu de S. João de Alporão foi construído para guardar apenas um dente

D. Duarte de Meneses, Conde de Viana, foi um cavaleiro escalabitano que alcançou o posto de Alferes-Mor de Álcacer-Seguer, feitoria marroquina conquistada em 1458. Foi nesta praça do norte de África, mais propriamente na serra de Benacofu, que o guerreiro português tombou em combate, em 1464, por altura das cruzadas, quando defendia a retirada do rei D.Afonso V.
A inscrição que se encontra no mausoléu de D. Duarte de Meneses, gravada no século XVIII, acrescenta pormenores à história, ainda que dificilmente se consiga comprovar a sua veracidade. É referido que o militar, dispondo de apenas 500 soldados, enfrentou 500 mil mouros no conflito onde perdeu a vida, embora tenha conseguido salvar a vida do monarca português, que assim pôde regressar são e salvo a Portugal, após mais uma campanha por terras africanas.
O monumento funerário de D. Duarte de Menezes, um cenotáfio encomendado pela sua viúva, D. Isabel de Castro, no final do século XV, destinava-se a acolher um pequeno cofre que guardava apenas um dente, que supostamente pertencera ao falecido militar. Enquanto alguns investigadores alegam que o corpo de D. Duarte nunca foi resgatado do campo de batalha, outros garantem que o mesmo dente foi precisamente a única parte que se conseguiu recuperar do cadáver despedaçado do soldado português.
Já agora, explique-se que um cenotáfio é um monumento funerário simbólico, erguido para homenagear apenas uma pessoa ou mesmo um grupo de indivíduos. Poderá tratar-se de uma tumba vazia, destinada a guardar alguma lembrança relacionada com a pessoa, ou acontecimento, que se pretende evocar.

Esculpido por canteiros da Batalha
Esculpida pelo mestre Gil Eanes Costa, da escola de canteiros do Mosteiro da Batalha, a tumba funerária foi construída com calcário local e tem um peso impossível de calcular. Possui uma envergadura de seis metros e meio de altura, uma largura de quatro metros e trinta e cinco, e uma espessura ou profundidade que não vai além de um metro.
Monumento do gótico final português, este monumento é considerado uma das jóias da arquitectura e escultura tumular nacional. Ostenta uma estátua jacente de um guerreiro armado, envolta por motivos decorativos de ordem vegetalista, animalista e heráldica, directamente inspirados no estilo dos túmulos dos infantes da Capela do fundador do Convento da Batalha, D. João I.

Mudar de casa
O cenotáfio de D. Duarte foi originalmente instalado na capela das Almas, no Panteão dos Condes de Viana, situado no interior do Convento de S. Francisco, em Santarém. Em 1881 foi autorizada a sua transferência para o Museu do Carmo, em Lisboa, o que só não aconteceu perante os protestos das autoridades e da população escalabitana, que se manifestaram contra esta decisão, impedindo a desmontagem do mausoléu e a mudança de local.
Apesar disso, parte do espólio monumental local foi mesmo transferido para Lisboa no final do século XIX. Como justificação foi apontada a ausência de obras de conservação e o perigo de degradação, bem como as demolições e transformações operadas nos edifícios históricos da cidade.
Em 1889 a Igreja de São João de Alporão abriu ao público como museu, após uma das primeiras obras de conservação e restauro realizadas em Portugal. Uma das principais atracções era precisamente o cenotáfio de D. Duarte de Meneses, que fora desmontado sob a supervisão de um mestre-pedreiro do Convento da Batalha, e transferido da sua localização original na capela das Almas. Antes fora aberto na presença das autoridades e arqueólogos locais, que encontraram uma tumba vazia, contendo apenas um pequeno cofre com um dente no seu interior.
Segundo técnicos da Câmara Municipal de Santarém, estudos recentes concluíram que o dente analisado pertencia à dentição de uma criança.
Carlos Quintino

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