sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Os mouros tentaram reconquistar por duas vezes o planalto de Santarém após terem sido derrotados por D. Afonso Henriques

O castelo de Shantarîn foi conquistado de surpresa aos mouros, na madrugada de 15 de Março de 1147. O assalto, sob o comando do rei D. Afonso Henriques, inseria-se na estratégia de reconquista cristã rumo ao sul, encetada após a criação do condado portucalense, em 1095.
Já com a nova designação de Sancta Herene, a povoação medieval e o seu castelo foram alvo de uma nova investida muçulmana, em 1171. O ataque fracassou e as forças árabes foram derrotadas pelas tropas de Fernando II de Leão, genro de D. Afonso Henriques, que se encontrava em Santarém na altura. Dez anos depois, em 1181, teve lugar um segundo assalto muçulmano, mas os invasores foram novamente obrigados a recuar perante a contra-ofensiva levada a cabo pelas tropas do Infante D. Sancho, que se encontravam acantonadas na cidade.

Do pelourinho de Santarém resta apenas o pináculo

Pelourinhos, ou picotas, eram colunas de pedra que simbolizavam o poder municipal, servindo como instrumento de jurisdição feudal. Edificados nas principais praças de vilas e cidades, desde o século XII, serviam sobretudo para prender, castigar e expor os criminosos ou escravos acusados de cometerem delitos.
O Pelourinho de Santarém, de influência manuelina, encontrava-se originalmente na Praça do Município, hoje conhecida como Praça Visconde Serra do Pilar, um amplo espaço onde se realizava igualmente um mercado semanal.
Com as mudanças político-sociais ocorridas durante o século XIX em todo o país, o pelourinho de Santarém foi demolido por ser considerado um símbolo de tirania. Resta apenas um fragmento do pináculo, classificado em 1933, que se encontra em exposição no centro de interpretação Urbi Scallabis, no actual Jardim das portas de Sol.
Muitos destes pelourinhos possuíam no topo um pequeno compartimento, com grades de ferro, onde os criminosos eram expostos publicamente. No entanto, a situação mais comum era amarrar os presos a argolas de ferro incrustadas nas colunas dos pelourinhos, onde eram chicoteados ou mesmo mutilados, consoante a gravidade do crime cometido.
Por norma, os pelourinhos possuíam uma base sobre a qual assentava uma coluna cuja extremidade superior terminava num capitel. Grande parte dos pelourinhos portugueses são considerados obras de relevante valor artístico, sobretudo aqueles de estilo românico, gótico, renascentista ou manuelino. Alguns investigadores afirmam que os pelourinhos tiveram origem na columna moenia romana, uma peça que distinguia as cidades que os possuíam com alguns privilégios.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

O subsolo de Santarém esconde três mil anos de História

Debaixo da actual cidade de Santarém e arrabaldes esconde-se um verdadeiro puzzle de antigas povoações e diferentes civilizações, que deixaram marcas por toda a região. Após anos de trabalhos arqueológicos, sabe-se actualmente que, desde a idade do bronze, Santarém foi alvo de inúmeras operações, tendo sido construída e reconstruída, derrubada e erguida consecutivamente.
As intervenções arqueológicas dos últimos anos, provam que a área urbana de Santarém foi ocupada desde o século X antes de Cristo. Sob o domínio romano e, posteriormente, muçulmano a cidade conheceu épocas de grande desenvolvimento económico e social, tendo sido um importante centro político e administrativo. Com uma localização estratégica do ponto de vista militar e uma posição privilegiada, atravessada por uma rede de caminhos terrestres e pelo rio Tejo, com um importante eixo de rotas fluviais e marítimas, Santarém conheceu um notável protagonismo em diferentes períodos da sua história.
No geral, as cidades são uma importante fonte de vestígios arqueológicos, permitindo conhecer como viveram e morreram os seus habitantes. Muitos centros urbanos actuais continuam a esconder as antigas povoações que lhes antecederam.
Enquanto se sabe que alguns arruamentos mantiveram o traçado original, outros perderam-se simplesmente para sempre. Poucos edifícios resistiriam incólumes ao passar dos anos e mesmo os antigos bairros que chegaram até aos nossos dias, perderam pelo caminho grande parte das suas características originais.
A ocupação do solo urbano ao longo dos séculos deixa, inevitavelmente, uma acumulação de diferentes estratos, que explicam o que terá ocorrido durante cada momento da ocupação anterior, o que faz do subsolo das cidades um autêntico “livro de registo” da história de todos aqueles que a habitaram anteriormente.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Santarém foi um importante porto nas rotas do comércio mundial durante o império romano

Móron seria uma das mais importantes cidades do médio Tejo no ano 138 antes de Cristo, quando a Lusitânia foi conquistada por tropas romanas. Em seu redor, encontravam-se vastos campos de lezíria, sujeitos a constantes inundações do rio Tejo, situação que ainda ocorre, contribuindo para que esta zona possua alguns dos solos mais férteis do País.
Já na altura da invasão romana abundavam vinhas e olivais e, face à necessidade de se distribuírem os produtos aqui cultivados, desenvolveu-se uma importante navegação fluvial e terrestre que permitiu escoar o vinho e o azeite, tal como muitos outros produtos aqui manufacturados.
Santarém foi desde cedo um importante centro económico. Para além da produção local, foi também um notável local de consumo de produtos importados, com uma florescente actividade comercial, comprovada pelos inúmeros achados arqueológicos aqui descobertos, provenientes de diversos cantos do mundo civilizado então conhecido.
Além da forte apetência fluvial, a região de Santarém foi igualmente um importante centro de passagem de rotas de comércio terrestres. Face ao crescimento destas vias de comunicação, registado ao longo da expansão do império romano, o comércio por caminhos terrestres sofreu igualmente um enorme desenvolvimento.
Quanto às mercadorias que aqui chegavam via marítima, provinham sobretudo de portos comerciais instalados ao longo na costa litoral mediterrânea. Já na época, alguns desses produtos eram considerados artigos de luxo, particularmente objectos manufacturados oriundos de paragens longínquas, como é o caso da Grécia ou do médio oriente, sobretudo da faixa sírio-palestiniana.
No entanto, os artigos importados eram essencialmente bens alimentares e objectos de cerâmica para uso doméstico. Sabe-se ainda que esses produtos provinham sobretudo de Itália, Gália, norte de África e do sul do actual território espanhol.
De referir ainda que uma das mais importantes vias militares, que ligava Lisboa, ou Olisipo, à capital do Império Romano, passava precisamente por Scallabis, a antiga civitas elevada a Praesidium Julium, após a chegada dos romanos.

Duas das mais 'apetitosas' telas da pintura portuguesa estão expostas em Santarém

A casa-museu Anselmo Bramcaamp Freire, em Santarém, possui três obras, datadas de 1676, concebidas por uma das primeiras mulheres portuguesas a ter a pintura como profissão: Josefa de Ayala Cabrera, também conhecida como Josefa de Óbidos. Encontram-se aqui uma obra de cariz religioso,‘Repouso na fuga para o Egipto’, bem como duas pinturas de naturezas mortas, uma com doces e rebuçados, outra com bolos e queijos, consideradas duas das mais 'apetitosas' telas da pintura portuguesa.
Josefa de Óbidos, a mais conhecida pintora do Barroco nacional, foi uma mulher emancipada para a época em que viveu. Nasceu em Sevilha em 1630 e morreu em Óbidos em 1684, solteira e sem filhos.
Após uma curta permanência num convento de Coimbra, foi nesta cidade que assinou as primeiras obras. Apesar de não ter seguido a vida monástica, grande parte da sua obra incidiu precisamente em temas religiosos e nas inevitáveis naturezas-mortas.
Ao adoptar a pintura como forma de vida, Josefa seguiu as pisadas do pai e aprendeu as técnicas que na altura dominavam o mundo das artes. Começou cedo a misturar as tintas e a reproduzir gravuras em desenho, mas nunca estudou anatomia humana, apesar da forte componente religiosa da sua obra, com inúmeras representações humanas.
Célebre no seu tempo, alcançou reconhecimento com a sua pintura e enriqueceu em vida, trabalhando para a casa real, entre muitas outras encomendas.
Trabalhava sobretudo em Óbidos, longe dos centros cosmopolitas, de outros artistas e da discussão de ideias sobre arte. No entanto, existem relatos de que no interior das muralhas da histórica vila se encontrava uma verdadeira "corte de aldeia" dada à discussão de “florescentes ideias, debates teóricos, e tertúlias literárias e artísticas”.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

A história de Santarém começou muito antes da invenção da escrita

A região de Santarém atraiu desde muito cedo diferentes povos e civilizações, que aqui se estabeleceram desde tempos tão recuados como o primitivo neolítico. Desde os primórdios que a cidade se localiza num planalto estratégico, rodeado por solos férteis, com clima ameno e um rio de fácil navegação até à foz, situada a escassos 80 quilómetros. Alguns dos vestígios que comprovam a presença humana na região, datam dos séculos X e IX antes de Cristo, enquanto a escrita terá sido inventada pelos sumérios, um dos primeiros povos da antiga Mesopotâmia, por volta de quatro mil anos antes de Cristo.
No primeiro milénio antes de Cristo, Santarém chegou a ser considerada uma verdadeira cidade-estado, só passando a integrar o reino de Portugal em meados do século XII, após a tomada da cidade aos mouros pelas tropas comandadas por D. Afonso Henriques.
Para trás ficaram cinco milénios, em que esta zona acolheu diferentes povos e civilizações, que deixaram uma valiosa herança cultural por toda a região, mas a cidade teve igualmente um importante papel em alguns dos principais momentos da história de Portugal.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Um antigo presidente da Câmara de Lisboa deixou a sua casa e todo o espólio à cidade de Santarém

No piso superior da Biblioteca Municipal de Santarém encontra-se a casa-museu Anselmo Braamcamp Freire, mas todo o edifício, com o respectivo espólio e jardim envolvente foram doados à cidade de Santarém por este historiador e político, nascido em 1849, em Lisboa, onde morreu 80 anos depois.
Pelo meio deixou uma vasta obra científica e anos de dedicação à causa pública. Após ter sido nomeado par do reino em 1887, virou costas à monarquia e aderiu ao Partido Republicano, em 1907. Fez parte da oposição na Câmara de Lisboa e chegou a presidente do Senado após a proclamação da República. Foi ainda presidente das Câmaras de Loures e de Lisboa, bem como deputado às Câmaras Constituintes. Candidatou-se ainda à Presidência do país, mas acabou por se retirar da corrida.

A igreja de S. João de Alporão acolhe o mais antigo museu público do país

A igreja de S. João de Alporão é o único edifício que resta do antigo mosteiro da ordem de São João do Hospital, instalado na Santarém medieval desde o século XII.
Após a ocupação muçulmana, em que acolheu uma mesquita, D. Afonso Henriques, doou o edifício aos cavaleiros Hospitalários, como recompensa pela ajuda na tomada de Santarém aos mouros.
Posteriormente, passa para a Ordem de Santiago, mas com a nacionalização dos bens das ordens religiosas deixou de ser um local de culto. Após 1836, chegou mesmo a ser utilizada como simples arrecadação e depósito de materiais, como palha ou cal.
A partir de 1849, transforma-se em sala de teatro e foi palco de inúmeros espectáculos até 1876, ano em foi criado o Museu Distrital de Santarém, o primeiro do país instituído por entidades públicas.
Após obras de restauro, abriu ao público em 1889 como museu, com a dupla finalidade de mostrar achados arqueológicos e expor produtos e indústrias do distrito.

Museu dos cacos
Apesar de ter sido classificado como Monumento Nacional, em 1910, até final do século XX, a Igreja de S. João de Alporão foi, efectivamente, um depósito de peças soltas e armazém de moedas e notas fora de circulação. Durante anos foi popularmente chamado de “Museu dos Cacos”, dada a quantidade de objectos e fragmentos de outros monumentos, amontoados sem qualquer critério de organização e catalogação museológica ou enquadramento histórico.
No meio da confusão era possível encontrar algumas jóias da escultura tumular portuguesa, caso do cenotáfio de D. Duarte de Meneses, morto em combate e desaparecido no norte de África, em meados do século XV. O túmulo foi encomendado pela esposa no fim desse século, para que fosse local de repouso final de apenas um dente, o único elemento restante do corpo do antigo soldado.
Finalmente, em 1994, o antigo Museu Arqueológico foi definitivamente encerrado e procedeu-se à transferência do espólio para a reserva museológica municipal, onde tem vindo a ser inventariado e estudado, até aos dias de hoje.
Após obras de beneficiação, S. João de Alporão  tornou-se no primeiro núcleo museológico do Museu Municipal de Santarém, dedicado a acolher exposições de arte e arqueologia. Actualmente, encontra-se encerrado ao público, enquanto se aguarda um plano de salvaguarda que reverta o polémico 'tratamento' a que o edifício foi sujeito, em 2000, ao qual as autoridades municipais atribuem a responsabilidade pelas constantes derrocadas no interior do monumento. Carlos Quintino/Eu Gosto De Santarém

Pedro Álvares Cabral: Três Túmulos Para Um Homem Só

Santarém tem uma relação de amor com
Pedro Álvares Cabral.
A cidade garante ser o local da sepultura definitiva
do descobridor do Brasil, mas do outro lado do Atlântico também há quem defenda
que os restos mortais de Cabral foram transladados para o Brasil no inicio do século XX.
Em Belmonte, terra onde nasceu, estarão sepultados outros restos
mortais do marinheiro português.

Pedro Álvares Cabral, nasceu em Belmonte, na Beira Baixa, numa família nobre, por volta 1467. Com 33 anos foi nomeado pelo rei D. Manuel I comandante da segunda armada que viajou da Europa até à Índia. Saiu de Lisboa a 9 de Março de 1500 com uma esquadra de 13 navios e cerca de 1500 homens, na época a maior em Portugal e apontada como a mais bem equipada de todo o século XV a nível mundial.
Dois meses depois, um desvio de rota para ocidente, em busca de ventos favoráveis, levou à descoberta - quase acidental - do Brasil, a 22 de Abril, baptizado então como Ilha de Santa Cruz. Desembarcaram na zona hoje conhecida como Porto Seguro, no sul do actual estado da Bahia, e retomaram a rota original a caminho da Índia.
A que restou desta armada, regressou a Lisboa a 31 de Julho de 1501 com apenas seis navios, embora todas as embarcações estivessem carregadas de especiarias e outros produtos locais. Consta mesmo que Cabral terá sido escolhido mais pelas suas reconhecidas capacidades militares do que propriamente pela sua experiência náutica.
Em 1502 foi convidado a comandar a 3ª expedição ao Oriente, mas desentendeu-se com o Rei e caiu em desgraça.
A partir desse ano, fixa-se em Santarém à espera de ser chamado ao serviço da Coroa, mas nunca mais lhe foi atribuída qualquer missão oficial. Ao longo dos anos terá tentado reaproximar-se da Corte, mas Dom Manuel nunca lhe perdoou. Contudo, o Rei não o esqueceu e concedeu-lhe benefícios a partir de 1515.
Em Santarém – na altura a segunda cidade do Reino – instala-se na moradia que hoje é conhecida como Casa Do Brasil, no agora chamado Largo Pedro Álvares Cabral. Morreu por volta de 1520, relativamente esquecido, e foi sepultado em campa rasa num túmulo provisório. Quando faleceu a sua esposa, Dona Isabel de Castro, em 1538, o corpo do marinheiro foi exumado e a família Cabral ganhou um jazido definitivo na Igreja da Nossa Senhora da Graça

Na lápide tumular recordam-se apenas os méritos de Isabel de Castro e não referem uma só palavra sobre os feitos de Pedro Álvares Cabral, como a descoberta do Brasil, proeza que lhe garantiu um lugar na História. O facto dos escritos homenagearem apenas a esposa do marinheiro, leva a que alguns estudiosos digam que isso é a prova da obscuridade a que Cabral foi submetido nos últimos anos de vida.
Orgulhoso, irascível e conflituoso, Cabral provocou várias contendas na corte lisboeta do seu tempo e criou inimizades um pouco por todo o lado. As suas famosas crises de mau humor seriam provocadas por febres crónicas, doença que o perseguia desde os 17 anos de idade, quando lutou em Marrocos e contraiu Malária.
O jazigo foi aberto em Agosto de 1882 para confirmar a presença de Cabral e foram encontradas três ossadas humanas, duas masculinas e uma feminina. Supõe-se que além do casal, o terceiro esqueleto pertenceria a um dos filhos que morreu pouco depois do pai. A falta de recursos na época não permitiu qualquer conclusão sobre a identificação dos corpos.
Causou ainda estranheza a presença do esqueleto de uma cabra no interior do túmulo, mas para muitos isso provava que dentro daquela sepultura jazia Pedro Álvares Cabral: o escudo dos cabrais ostenta dois destes animais.
No panteão dos cabrais, em Belmonte, existe igualmente uma arca tumular de granito que contém cinzas retiradas do túmulo de Pedro Álvares Cabral localizado na Igreja da Graça em Santarém. Foram oferecidas em 1961 pela Câmara de Santarém.
Apesar dos vestígios em Portugal, no Brasil há quem garanta que aqui também se encontram restos mortais de Cabral. Por volta de 1903 foi reaberto o jazigo da Igreja da Graça. Desta vez o sepulcro continha oito corpos, cinco ossadas masculinas, uma feminina e duas de crianças.
Segundo historiadores brasileiros optou-se por uma solução simplista: dividiram-se os ossos, formaram-se dois esqueletos completos. Um ficou em Portugal e outro terá sido depositado na Igreja do Carmo, antiga Catedral Metropolitana do Rio de Janeiro.
Estudiosos portugueses apontam outra justificação para a existência desta urna. A própria lápide brasileira não refere restos mortais, mas sim ‘resíduos mortuários’, que seriam terra retirada do túmulo original e guardada numa urna que fora levada para o Brasil. Oficialmente nunca foi
autorizada qualquer transladação.
Carlos Quintino

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

A Torre das Cabaças é associada a uma lenda que menciona as "cabeças ocas" dos homens que a mandaram construir

Desde meados do século XIV foram erguidas torres de relógio nas principais cidades do reino. A de Santarém foi construida a meio do século XV e foi classificada como Monumento Nacional em 1928.
Originalmente existiam apenas quatro cabaças, enquanto as restantes foram colocadas em 1933, quando o edifício sofreu obras de restauro. Serviam sobretudo de caixa de ressonância, ajudando a expandir o toque do sino do relógio ao bater das horas, espalhando o som em várias direcções. Desta forma chegaria facilmente aos campos em redor de Santarém, onde a população rural trabalhava.
Conta uma anedota popular do século XVIII que, em deslocação a Santarém, o rei D.Manuel I (1495-1521) indagou se era necessário alguma obra importante, tendo sido informado que não existia qualquer torre de relógio. Após ter sido dada ordem aos vereadores da vila para avançarem, o monarca regressou quando a obra foi concluída. No cimo da torre deparou com um sino suportado por varões metálicos e terá mandado colocar sete cabaças de barro, representando as cabeças ocas do senado santareno, que passou a ser conhecido por senado cabaceiro.
A ironia resistiu ao tempo e hoje é assim que é conhecido o mais emblemático dos edifícios de Santarém, com os seus 32 metros de altura. Desde os anos 90 acolhe o Núcleo Museológico do Tempo, onde se encontram em exposição as principais etapas da pesquisa humana sobre o tempo.
CQ

Uma das lendas da criação de Santarém aponta uma criança abandonada à nascença como o fundador da cidade

A história da fundação da cidade, compilada no século III pelo historiador romano Justino, indica a existência de uma criança desamparada que teria sido alimentada por uma cerva. Mais tarde acabaria por chegar a rei dos Tartessos, trazendo a toda a região progresso, paz e justiça.
No entanto, alguns objectos recolhidos em escavações realizadas ao longo dos últimos anos, mostram que a ocupação humana remonta, pelo menos, a cinco mil anos antes de Cristo. Terá sido por essa altura que se começou a desenvolver a agricultura, sobretudo nos terrenos ribeirinhos, sendo apontado como exemplo disso, a descoberta de um vaso neolítico, encontrado no monte de S.Bento, ainda no século XIX.

Santarém foi uma das mais importantes cidades da Lusitânia e capital de uma das principais regiões administrativas criadas por Roma

Roma conquistou militarmente a Península Ibérica durante o século II antes de Cristo, substituindo Cartago na administração da região. Datam desta época os primeiros vestígios da presença romana em Móron, altura em que aqui se terão instalado as primeiras tropas romanas.
A ocupação romana alterou por completo o modo de vida das populações e o urbanismo local, que passou a ser redesenhado segundo os modelos impostos por Roma. Por volta do ano 30 antes de Cristo, a povoação de Scallabis alcançou uma maior importância e acabou por se tornar a capital de um dos três conventus (ou distritos) da Lusitânia, sendo atravessado por duas das principais vias de comunicação que cruzavam o território nacional.
Toda esta região sofreu a influência de povos mediterrâneos, a partir da Idade do Ferro, em particular da civilização Fenícia, originária do médio oriente no local onde hoje se situa a faixa sírio-palestiniana. Apostando fortemente no comércio marítimo, os fenícios fundaram, em apenas três séculos, diversos entrepostos comerciais ao longo de toda a costa mediterrânea.

O templo romano mais antigo do país foi descoberto em Santarém

Roma ergueu vários edifícios no planalto da alcáçova, mas somente o templo romano de Scallabis, construído no século I antes de Cristo, chegou até aos nossos dias, embora apenas tenham resistido o podium e a parte da cella. Classificado como Monumento Nacional desde 1995, é o achado romano mais antigo no país, permitindo seguir, desde o início, a presença romana na Península Ibérica.
Inserido em zona urbana, dentro da muralha medieval, o templo foi encontrado durante as obras de recuperação do jardim da Casa da Alcáçova, nas Portas do Sol, um empreendimento de turismo de habitação que chegou a estar em risco devido a esta descoberta.
O templo, de planta quadrangular, tem uma altura máxima de quatro metros, e no centro da plataforma foi construída uma cisterna, entre os séculos XII e XIII, além de ter ainda sido edificado um picadeiro, no final do século XIX.
Os primeiros vestígios da ocupação romana em Móron datam de 139 antes de Cristo. Alguns anos mais tarde foi criado, em local por identificar, um acampamento fortificado (praesidium), que deu origem à cidade (civitas) de Scallabis. O papel militar desta colónia manteve-se até às invasões dos alanos e dos vândalos, por volta do século V depois de Cristo. Carlos Quintino

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Móron foi o primeiro nome documentado para designar o planalto onde se ergueu a cidade de Santarém

Enquanto a maioria da população associa Scallabis à designação ancestral da cidade, o nome Móron foi igualmente usado desde os primórdios da ocupação humana. Ambas as denominações derivam da influência fenícia, o que explica os antigos topónimos pelos quais Santarém foi outrora conhecida.
Com uma posição natural de enorme importância estratégica, dominando uma vasta área do vale em redor, o planalto de Santarém permitia controlar quem subia ou descia o rio. Esta singular posição geográfica terá sido uma das principais razões que levaram diferentes povos a instalarem-se nesta região, inicialmente apenas na zona conhecida como Alcaçova, que corresponde actualmente ao Jardim das Portas de Sol.
O historiador grego Estrabão localiza Móron num monte junto ao rio, a cerca de 90 quilómetros do mar. Enquanto esta palavra deriva da expressão fenícia para “local elevado”, os romanos que aqui chegaram dois séculos antes de Cristo, chamaram ao povoado Scallabis, designação que se terá baseado em duas palavras siríacas: “remover” e “antepassado”, dando assim início a uma nova era sob a administração romana da Península Ibérica.

Dieta Mediterrânica já é Património da Humanidade, mas sem Portugal

A Dieta Mediterrânica é desde Novembro de 2010 Património Imaterial da Humanidade, um reconhecimento que chega através da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO). A atribuição parte de uma candidatura conjunta apresentada pela Espanha, Itália, Grécia e Marrocos. Um processo que não contou com a participação portuguesa. Especialistas no fenómeno alimentar falam em «exclusão» e «oportunidade perdida» para o nosso país.